Fábrica de sonhos, 2009
vídeo, 5'50"
Em "Fábrica de Sonhos", trabalho de 2019, imagens da infância da artista são projetadas em algodão doce, que é ingerido
durante a performance. Neste trabalho, Jeane Terra se alimenta e revisita sua tempestade de lembranças, e se apropria
delas para se constituir como adulta. Segundo o Doutor em Filosofia Guilherme Massara Rocha: Presente significa, ao
mesmo tempo, presença (...) presente quer dizer: demorar-se ao nosso encontro, ao encontro de nós, os homens (...)
presença significa o constante permanecer que se endereça ao homem, que o alcança e é alcançado. M. Heidegger, 1962.
Decifra-me ou te devoro "Fábrica de Sonhos" insere-se no bojo de uma série de vídeos de Jeane Terra marcados por um
esforço de tratamento imagético das relações entre o sujeito e o vazio, e orquestrados pela sofisticada abordagem que a
artista empreende das nuances da transitoriedade. Em seus instantes germinais, gravita a usina ruidosa de onde provém a
substância de nossa memória. A artista colhe ali a anti-matéria, o que se trama em torno do vazio, nos humores da doce
galáxia e suas mais recônditas aspirações. Alegoria da criação ex-nihilo, a invenção invisível do ser. Jamais exatamente
alcançadas, as formas do desejo fazem brilhar o teatro opaco em que se encenam. Teatro sensível, forjado pela
condensação inexorável do tempo e que, com seu gesto, seu giro, a artista põe ao serviço do instante, do inconsciente,
indestrutível e atemporal. Jeane Terra trabalha, no tempo, o que se encena fora dele.
